sexta-feira, 24 de outubro de 2008

A tangerina

Johnny estava vendo um filme, mas não prestava muita atenção. Até cochilava. Acordou no outro dia com dor nas costas por ter passado a noite no sofá e do filme só se lembrava da cena de uma garota mulata de lábios carnudos e dentes brancos chupando uma tangerina. Ficou então com uma vontade louca de comer tangerina, aquela fruta de nome exótico que nunca havia experimentado. Depois da aula então decidiu passar num supermercado. Porém no supermercado não havia tangerina. Johnny então saiu durante toda a semana a procurar nas frutarias, mercearias e demais bodegas a tal fruta. Porém não encontrou.
Pesquisou então na internet como era um pé de tangerina e passou a observar os quintais alheios por onde passava. Mas logo descobriu que faltavam ainda alguns meses para a época em que as tangerineiras dariam frutos.
Johnny pensou em comprar uma muda e cultivar em seu quintal, mas para sua infelicidade o vendedor disse que não trabalhava com a espécie porque o clima da região não era propício.
Como não se agüentava de curiosidade e vontade, Johnny tomou uma atitude drástica: encomendou pela internet uma dúzia de tangerinas.
Sessenta e seis dias depois e com $44 a menos no bolso ($12 das tangerinas e $32 do frete) as tangerinas chegaram numa caixa superprotegida já bastante moles, alaranjadas e algumas rachadas. Porém mesmo assim Johnny se fartou delas.
Ao terminar o banquete sentiu um vazio e uma estranha sensação de que já havia experimentado aquele sabor antes, foi quando leu em letras miúdas a nota fiscal que acompanhava as frutas na caixa: "12 mexiricas". Ficou revoltadíssimo! Como puderam cometer tamanha sacanagem enviando mexiricas ao invés de tangerinas. Ligou então para a distribuidora cuspindo enquanto fazia sua queixa. Mas desligou o telefone sem graça e completamente frustrado. Afinal o atendente lhe abrira os olhos lhe contara a verdade cruel: tangerina e mexirica eram uma fruta só! Olhou para o quintal do vizinho e viu que no chão ao redor de uma árvore fina de médio porte haviam várias esferas alaranjadas apodrescendo. Lembrou-se então dos $44, do vendedor ignorante, das informações incompletas da internet e das semanas passando vontade, como não percebera a semelhança da fruta entre os dentes brancos da mulata de lábios carnudos!
Deitou-se então enquanto passava um filme na tv. Acordou no outro dia com uma tremenda dor nas costas por ter passado a noite no sofá e do filme só se lembrava de uma cena: uma loura de olhos verdes e cabelo liso se deliciando com uma fruta que chamara bergamota.

Um comentário:

  1. Gostei do conto! Demorei um pouco para ter acesso à ele. A falta de informação faz bastante coisas mesmo hein. É isso.

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